Page 38 - Escravo Bernardino | Premium | Infinda
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Caí novamente, tudo rodou; não consegui enxergar
mais nada, senti que estava com febre. Quando voltei do
pequeno desmaio, um dos capatazes, com dó, me colocou
na garupa do seu cavalo. Logo chegamos à fazenda. Era
quase noite, o castigo deveria ficar para o outro dia e dian-
te de todos os escravos da fazenda.
Os escravos faziam os seus comentários, uns achavam
certo e merecido o castigo, era um fujão. Outros tinham
pena e achavam que eu deveria ter um motivo para fugir.
Mas o castigo deveria servir de exemplo a todos.
Tiraram a corda do meu pescoço, fui amarrado pelas
mãos num canto da senzala. Tinha muita sede e fome.
Foi proibido me dar água ou alimento. Mas, no meio da
noite, escondido, Tião me deu água, bebi com gosto. Pas-
sei aquela noite variando, ora parecia que fugia, ora que
recebia o castigo. De manhãzinha, fui levado ao tronco e
diante de todos os negros da fazenda o castigo começou.
Minhas lembranças acabaram. Olhei para os que me
cercavam. Eram alguns negros curiosos, Tião e uns garotos.
Estava num canto da senzala, quase deserta àquela hora.
Foram todos trabalhar. Os negros que ali estavam iam sair
com o capataz para outro local e esperavam ser chamados.
— Você é mais fraco que parece! – comentou um deles.
— Como está machucado! – penalizou outro me olhan-
do bem.
— Por que fugir? – indagou um dos mais velhos.