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resultado da má alimentação. Até que, um dia, Pedro não
                     se levantou.
                       — Estou passando mal. Acudam-me… Minha Dita,
                     meus meninos… Ai… Ai…
                        Foram suas últimas palavras. Logo em seguida morreu.
                        Choramos sua morte, e pensei: “Será que agora vai
                     rever sua família? Será que poderá ficar com eles?”
                        Naquele mesmo dia, outros começaram a ficar doen-
                     tes, a sentir o que Pedro sentiu. Febre, vômitos, diarreia e
                     dores pelo corpo. Os capatazes ficaram com muito medo.
                    Eles nos trancaram dentro da senzala, a que nós mesmos
                     construímos, e foram embora.
                       — Vamos atrás do patrão. Vocês ficam aqui.
                        Estava fraco, tinha emagrecido muito, quase todos
                     estavam doentes. Comecei a sentir o efeito da estranha
                     doença. Ficamos presos durante três dias, sem comer e
                     com pouca água. Mais dois escravos morreram. Nosso
                     sinhô, o patrão, veio. Mandou abrir a senzala, soltou-nos,
                     deu-nos alimentos mais fortes, remédios e chás de ervas.
                    Melhoramos, ele mandou nos vender.
                       — Vão ser vendidos, preciso de escravos sadios e fortes
                     para construir esta fazenda. Vocês, fracos e doentes, não
                     servem para nada.
                        E lá fomos novamente acorrentados. Detestava a cor-
                     rente no pescoço, muito me maltratava e feria. Mudei
                     muito no tempo daquela fazenda. Parecia outro, magro,
                     abatido e triste.
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