Page 34 - Escravo Bernardino | Premium | Infinda
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resultado da má alimentação. Até que, um dia, Pedro não
se levantou.
— Estou passando mal. Acudam-me… Minha Dita,
meus meninos… Ai… Ai…
Foram suas últimas palavras. Logo em seguida morreu.
Choramos sua morte, e pensei: “Será que agora vai
rever sua família? Será que poderá ficar com eles?”
Naquele mesmo dia, outros começaram a ficar doen-
tes, a sentir o que Pedro sentiu. Febre, vômitos, diarreia e
dores pelo corpo. Os capatazes ficaram com muito medo.
Eles nos trancaram dentro da senzala, a que nós mesmos
construímos, e foram embora.
— Vamos atrás do patrão. Vocês ficam aqui.
Estava fraco, tinha emagrecido muito, quase todos
estavam doentes. Comecei a sentir o efeito da estranha
doença. Ficamos presos durante três dias, sem comer e
com pouca água. Mais dois escravos morreram. Nosso
sinhô, o patrão, veio. Mandou abrir a senzala, soltou-nos,
deu-nos alimentos mais fortes, remédios e chás de ervas.
Melhoramos, ele mandou nos vender.
— Vão ser vendidos, preciso de escravos sadios e fortes
para construir esta fazenda. Vocês, fracos e doentes, não
servem para nada.
E lá fomos novamente acorrentados. Detestava a cor-
rente no pescoço, muito me maltratava e feria. Mudei
muito no tempo daquela fazenda. Parecia outro, magro,
abatido e triste.