Page 41 - Escravo Bernardino | Premium | Infinda
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— Não, sinhô, não manda matar, não. Eu cuido dele.
           Posso? Poderei levá-lo para a cabana perto do riacho. A
           febre pode ser só pelos ferimentos.
             — Ninguém fica com febre só porque apanhou. Mas
           ele também se machucou na fuga. Não sei. Não gosto de
           fujões! Mas… – Passou a mão sobre a barba e me olhou
           novamente. – Está bem, Tião, leve-o e trate dele, não deixe
           ninguém chegar perto. Leve a esteira e tudo o que ele tocou.
             — Obrigado, sinhô – agradeceu Tião. – Vamos, Bernar-
           dino, levanta, ajudo você.
              Tião tratou de cumprir as ordens. Quase não conseguia
           andar, e foi ele que me arrastou para a cabana do riacho.
           Não era longe, mas, para mim, parecia distante demais.
           Quando chegamos, estávamos ofegantes e suados. Tião
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           me acomodou na esteira, senti alívio por estar deitado.               —
           A cabana era pequena, era um bom abrigo. Deu-me re-                   39
           médios e passou ervas nas minhas costas. Sentia muita
           fraqueza, a febre me fazia delirar; então sentia tudo girar e
           gritava, chamava Mara e meus filhos. Sofri muitas dores e
           muita fraqueza, mas no terceiro dia acordei melhor, estava
           sem febre. Tião estava ao meu lado me olhando sorrindo
           e me deu água fresca para beber.
             — Bernardino, como se sente? Está melhor?
             — Sinto-me melhor sim, obrigado. Deus lhe pague! Se
           não fosse você… Acho que o sinhô mandava me matar. E,
           se não tivesse cuidado de mim, tinha morrido.
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