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frente. Devagar, senão cansa logo. E se trabalhar assim,
                     logo um dos capatazes nos obrigará a seguir seu ritmo.
                       — Obrigado. Farei como você.
                        Sorri agradecendo. Percebi que todos trabalhavam de
                     forma cadenciada. Olhei em volta, curioso, observando
                     tudo. Não seria difícil fugir dali. Deveria economizar
                     forças para quando chegasse a ocasião propícia. Forças
                     para correr e ganhar liberdade. Passei a alimentar meu
                     sonho de fuga. Engordei, não estava tão abatido, mas es-
                     tava muito triste e saudoso. Não tinha muita disposição
                     para conversar, respondia somente às indagações feitas
                     diretamente a mim. Nos domingos não trabalhávamos.
                    Nós nos reuníamos, como também algumas vezes à noite,
                     na frente das senzalas, para conversar, cantar e até dançar.
                    Às vezes, sentava perto deles, mas só escutava, não conver-
                     sava; chorava, sempre escondido, de saudade.
                        A ideia da fuga ia tomando forma na minha mente.
                    Planejei tudo com cuidado e aguardava ansioso por uma
                     oportunidade. Esse dia chegou. Chovia muito e os capata-
                     zes esforçavam-se para proteger-se nos capotes. A caminho
                     da lavoura, consegui me esconder numa moita de capim.
                    Nem os outros companheiros viram. Temi que algum de-
                     les pudesse me denunciar. Quando me vi longe dos olhares
                     dos capatazes, corri para o mato. No mato, comecei a andar
                     com cuidado. Fugi de manhãzinha e logo a noite chegou.
                    Estava cansado, com muita sede, faminto e cheguei à triste
                     conclusão de que estava perdido. Arrependi-me. Para fugir
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