Page 33 - Escravo Bernardino | Premium | Infinda
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— Estou aqui – disse Onofre – sendo castigado no
lugar do meu filho. Ele roubou, foi descoberto, ele tem
filhos pequenos. Eu sou viúvo e só tenho filhos grandes.
Assumi a culpa no lugar dele.
— Arrepende-se? – indaguei.
— Não, aqui é ruim e sofro, mas não me arrependo.
Fiz e está feito. Só espero que meu filho crie juízo e não
roube mais.
Marcílio também nos falou de sua vida.
— Estou aqui por olhar para a sinhá. Ela é moça bonita.
Gostava de vê-la. O sinhô soube e me vendeu. Como ou-
sava um negro olhar, cobiçar uma branca? Deixei minha
mãe e meu pai chorando. Acho que não vou mais vê-los.
Tornamo-nos amigos, todos sabiam logo um da vida
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do outro. Ficava desesperado por não saber o que esta- —
ria acontecendo com Mara e as crianças. “Será – pensa- 31
va – que estariam ainda na fazenda? Foram separados?”
Aceitava a situação só por eles, só pela esperança de estar-
mos juntos novamente. Sabíamos que não tínhamos, por
enquanto, como fugir. Para esquecer a dor da saudade,
trabalhava bastante.
Ali ninguém conhecia a fazenda de onde vim, por isso
não sabia se estava longe ou perto. Calculava que não era
longe.
Era difícil também calcular o tempo. Trabalhávamos
todos os dias sem descanso. A senzala ficou pronta e co-
meçamos a fazer o galpão. Começamos a sentir fraqueza,