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— Estou aqui – disse Onofre – sendo castigado no
           lugar do meu filho. Ele roubou, foi descoberto, ele tem
           filhos pequenos. Eu sou viúvo e só tenho filhos grandes.
           Assumi a culpa no lugar dele.
             — Arrepende-se? – indaguei.
             — Não, aqui é ruim e sofro, mas não me arrependo.
           Fiz e está feito. Só espero que meu filho crie juízo e não
           roube mais.
              Marcílio também nos falou de sua vida.
             — Estou aqui por olhar para a sinhá. Ela é moça bonita.
           Gostava de vê-la. O sinhô soube e me vendeu. Como ou-
           sava um negro olhar, cobiçar uma branca? Deixei minha
           mãe e meu pai chorando. Acho que não vou mais vê-los.
              Tornamo-nos amigos, todos sabiam logo um da vida
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           do outro. Ficava desesperado por não saber o que esta-                —
           ria acontecendo com Mara e as crianças. “Será – pensa-                31
           va – que estariam ainda na fazenda? Foram separados?”
           Aceitava a situação só por eles, só pela esperança de estar-
           mos juntos novamente. Sabíamos que não tínhamos, por
           enquanto, como fugir. Para esquecer a dor da saudade,
           trabalhava bastante.
              Ali ninguém conhecia a fazenda de onde vim, por isso
           não sabia se estava longe ou perto. Calculava que não era
           longe.
              Era difícil também calcular o tempo. Trabalhávamos
           todos os dias sem descanso. A senzala ficou pronta e co-
           meçamos a fazer o galpão. Começamos a sentir fraqueza,
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