Page 35 - Escravo Bernardino | Premium | Infinda
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Novamente na feira, fui separado dos outros e fiquei
           mais uma vez sozinho. Fui levado e parti para outra fazenda.
              Essa fazenda era perto da cidade. Logo que chegamos,
           fui encaminhado à senzala. Ficar livre das correntes foi um
           alívio. Curiosos, os outros negros se aproximaram de mim.
             — Como se chama?
             — Bernardino.
             — Foi vendido por quê?
             — Porque o dono da fazenda, o sinhô, faliu. Alguém
           aqui já ouviu falar da fazenda Santa Clara?
             — Eu já ouvi. Você veio de lá? Fica uns dois dias de
           viagem a pé daqui. Ouvi este fato, escutei comentários. O
           sinhô faliu e vendeu tudo.
             — Para que lado fica?
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             — Ah, isso não sei dizer não – comentou um negro de                 —
           olhar esperto.                                                        33
              Os escravos ali pareciam viver bem, eram sadios e bem
           alimentados. Tomei banho, ganhei roupas e comi bas-
           tante. Deixaram-me descansar na senzala por três dias,
           depois me foi dado trabalho. Ia para a lavoura trabalhar
           com café. Não era amarrado, mas muitos capatazes nos
           vigiavam atentos.
              Comecei a trabalhar, e logo um dos companheiros avi-
           sou:
             — Não, assim não, homem de Deus, mais devagar. Veja,
           é assim como faço. A passo lento, tem o dia todo pela
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