Page 31 - Escravo Bernardino | Premium | Infinda
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grande dor moral meus amigos sendo vendidos e partindo,
sem coragem de se despedirem. Chegou a minha vez.
Era forte, tinha dois metros e três centímetros, ombros
largos, traços mais delicados. Tinha a cor mulata, mar-
rom-escuro e com uma grande pinta preta na testa, de uns
dois centímetros de diâmetro. Lances foram dados e fui
vendido bem caro. Não fiquei junto de nenhum compa-
nheiro da fazenda. Senti-me mais sozinho ainda.
Segui meu novo capataz, amarrado por correntes nos
pulsos, tornozelos e no pescoço. Era horrível, as correntes
me machucavam, dificultando até a respiração.
O capataz não era de muita prosa, mas respondeu às
perguntas que fizemos, meus companheiros, quatorze ne-
gros, e eu. Todos adquiridos na feira.
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— Para onde vamos? —
— Para a fazenda Capão Alegre. Vamos construí-la. 29
— Não tem nada lá?
— Só mato, mas com vocês trabalhando, logo estará
construída e bonita.
Nós fomos no começo por uma estrada, depois pelo
campo. Havia lugares em que era preciso abrir caminho
para as carroças passarem. Ia um capataz a cavalo e ou-
tros dois guiando as carroças onde estávamos com alguns
materiais de trabalho e mantimentos. Chegamos após
um dia inteiro de viagem. Fomos conversando. Embora
triste, conversei e contei a eles minha história. Todos ti-
nham histórias tristes para contar. Ali estávamos todos