Page 32 - Escravo Bernardino | Premium | Infinda
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separados da família. Alguns por castigo, outros vendidos
simplesmente pela vontade dos donos.
Chegamos ao meu novo lar. Era um lugar feio. Com-
parado com a outra fazenda era muito triste. Todos nós
estávamos assustados. Nessa fazenda nada havia, estava
tudo para construir. Descemos das carroças e nos foi ti-
rada a corrente do pescoço, o que nos deu certo alívio.
Acampamos perto de um poço d’água, onde pudemos to-
má-la à vontade, e nos foi servida uma comida que eles
trouxeram. Comemos pouco e fomos dormir, porque já
anoitecia. Dormimos ao relento. No dia seguinte, logo
que o sol despontou, escutamos a ordem:
— Ao trabalho! Vamos construir aqui uma grande fa-
zenda.
Começamos a fazer a senzala. Ali estavam só homens,
nós é que fazíamos nossa comida. A ração era pouca e
nos alimentávamos mal. Ficamos acorrentados só pelos
tornozelos, a corrente entre um e outro era de três me-
tros. Assim, não podíamos nos distanciar uns dos ou-
tros. Éramos vigiados por dois capatazes durante o dia e,
à noite, por outro. De vez em quando, uma carroça com
mantimentos vinha nos sortir e logo partia. Não éramos
castigados, ninguém levou chicotadas, mas nos alimentá-
vamos pouco e com comida de má qualidade. E a sauda-
de castigava. Quando trabalhávamos, não era permitido
conversar, mas parávamos o trabalho logo à tardinha e
podíamos conversar à vontade.