Page 54 - A História de Cada Um | Candeia.com
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entendia o que estava acontecendo. Ela me deixou ficar, mas
logo saiu, tinha de trabalhar. Eram nove horas quando ela
telefonou e pediu para ligar a televisão num determinado ca-
nal. Liguei, estava passando um noticiário e dando a notícia
de uma disputa entre bandidos de duas facções e que houvera
muitos mortos. Apareceram fotos dos que haviam morrido.
Desespero, surpresa, ele estava entre os bandidos falecidos.
Chorei escondido, fiz almoço, alimentei as crianças e senti
medo. Minha amiga tinha recebido duas cartas para mim.
Uma era de meus pais, implorando para que eu voltasse, e a
outra do meu marido, pedindo também. Minha amiga foi al-
moçar. “Celina, estou preocupada.” De fato, ela estava apavo-
rada. “Nessa disputa, seu companheiro deve ter previsto mor-
tes. Ele nos enganou, era um bandido perigoso. Ele afastou
52 você de lá, da casa em que moravam, por medo. Esse tiroteio
começou às quatro horas da manhã e foi até às sete horas.
Pelo que escutei no rádio, morreram doze homens e todos os
bandidos, traficantes e assassinos. Com certeza, se ficasse na
casa, correria perigo.” “Ele morreu!”, lamentei. “Estou com
medo, nunca senti tanto medo assim.” Minha amiga chorou.
Estava com as duas cartas nas mãos. “Eu as li!” “Ia lhe entregar
no sábado e, quando chegou aqui, esqueci.” “Eles querem que
eu volte”, contei. “É a solução. O melhor que tem a fazer. Lá
é longe; depois, você não pertencia ao grupo e penso que eles
não se darão ao trabalho de ir atrás de você. O outro bando
também teve perdas, e a polícia está atrás de todos. Você deve
ir, e rápido. Desculpe-me, estou com medo, sinto-me insegu-
ra e não os quero aqui. Vou agora à rodoviária comprar as
passagens para vocês no primeiro ônibus que tiver. Viajarei
amanhã cedo e quero deixar o apartamento fechado. Por