Page 49 - A História de Cada Um | Candeia.com
P. 49
comprei duas trocas de roupas. Dormi sentado em cima do
pacote numa cadeira. Tomei o café da manhã.
— E por que está aflito? – Rosa Maria quis saber.
— Quando escrevi para minha esposa contando o dia em
que sairia da prisão, afirmei que viria para nossa cidade. Pedi
a ela que, se ainda me quisesse, para me esperar na rodoviária.
Que eu a amava e que queria pedir perdão a ela e aos meus
filhos. Se ela não fosse me esperar, é porque não me queria
mais e então eu, da rodoviária, pegaria outro ônibus e iria
para outra cidade, onde meu irmão mora, para não os inco-
modar, porque sabia o mal que havia feito a eles. Se ela ainda
me amasse, que viesse me esperar. Tempos depois na prisão,
passei a pensar nela e compreendi como ela é boa, carinhosa,
bondosa, qualidades que não vira, e o tanto que amava meus
filhos, que agora o garoto está com dezessete anos e a meni- 47
na, com quinze anos. Quando comprei a passagem, fiz duas
coisas para avisá-la de quando chegaria. Telefonei para uma
pessoa, um dos trabalhadores que fora comigo para o Sul e
que estivera na fazenda, éramos muito amigos e é padrinho
de meu filho. Ainda bem que foi ele quem atendeu e me pro-
meteu avisá-la. Passei um telegrama para ela, informando dia
e hora que chegaria.
— E se ela não estiver esperando?
— Como escrevi, comprarei passagem para a cidade em
que meu irmão mora e vou para lá. Depois penso em tentar
fazer contato com meus filhos e lhes pedir perdão. Não posso,
não quero prejudicá-los.
— Você escreveu para ela dizendo que a amava?