Page 52 - A História de Cada Um | Candeia.com
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trabalho, estava viajando muito. Esse homem, meu compa-
                     nheiro, tinha horários diferenciados de trabalhar, normal-
                     mente saía de casa às dezesseis horas e voltava às duas ou
                     quatro horas da manhã. Ele me dizia que trabalhava venden-
                     do carros e que seus clientes queriam ser atendidos em horá-
                     rios noturnos. Continuava gentil, educado e me dava dinhei-
                     ro. Achando que meus filhos não entenderiam, não contei
                     que estava grávida. Fiz um belo enxoval, tive a criança num
                     hospital. Tudo deu certo. Fiquei sem ver meus filhos uma
                     semana, disse que fora viajar com minha patroa. Para eles, eu
                     continuava trabalhando como empregada. Nesse tempo não
                     deixei de dar notícias minhas para meus pais e para meu es-
                     poso, que considerava ex. Escrevia pelo endereço dessa amiga.
                     Para todos os meus familiares, eu continuava trabalhando, e
        50           uma senhora cuidava das crianças para mim. Mandava fotos
                     das crianças. Meu marido escrevia pedindo para que voltasse,
                     que me amava e prometeu nunca mais me bater. Até meus
                     pais pediram para voltar e que eles me defenderiam se preci-
                     sasse. Respondia que estava bem, mais responsável, que tra-
                     balhava muito e estava ajuizada. Não contei que arrumara
                     outra pessoa com medo do meu ex-marido. Foi há dois meses
                     que notei que meu companheiro estava preocupado, ele ex-
                     plicou que era pelos negócios. Há dois dias ele me acordou
                     quando chegou, às duas horas e cinquenta minutos da ma-
                     drugada. “Preste atenção, Celina, você deve ir embora logo
                     desta casa. Pegue suas coisas, comprei aquele jogo de malas,
                     são quatro. Arrume suas roupas e as do nenê, vá para a casa
                     onde seus filhos estão, leve duas malas e peça para a senhora
                     arrumar as roupas deles. Às seis horas, um táxi a levará até o
                     centro da cidade, perto da catedral; fique lá uns dez minutos,
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