Page 47 - A História de Cada Um | Candeia.com
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que ele sabia desde o começo que eu o roubava e permitiu,
porque planejara que, se fosse descoberto, ele iria me fazer
de responsável pelo negócio. Fui ingênuo, mas não inocente,
pensava que estava me dando bem. Sofrendo na prisão, no co-
meço revoltei-me, depois o tempo me fez amadurecer, com-
preender a vida; Deus, o Pai Amoroso, me dera como esposa
uma pessoa boa, honesta, dois filhos sadios e não dei valor.
Troquei uma joia por uma lata que refletia o que não era. Por
bom comportamento, sairia da prisão após ter cumprido oito
anos. Marcaram o dia. Escrevi para minha esposa contando,
escrevi várias cartas, uma atrás da outra, que voltaria e que,
se ela me quisesse, para me esperar na rodoviária.
Ele fez uma pausa e Marilda perguntou:
— E aí? O que aconteceu? Por favor, conte.
— Saí da prisão. Ninguém me esperava. Andando, fui até a 45
casa da vizinha, da senhora que, no começo, recebia as cartas
de minha esposa e as enviava novamente pelo correio para a
penitenciária. Trabalhei na prisão; com o pouco que recebia,
uma parte comprava produtos de higiene, alguns remédios
e guardava o resto; era essa senhora que guardava para mim.
— Foi lá e não recebeu nada?! – deduziu alguém.
— Pelo contrário, fui bem recebido por ela, que me serviu
o jantar, me convidou para dormir num quartinho nos fun-
dos e me deu o dinheiro. Como foi bom dormir sozinho e
não precisar ficar atento, não escutar roncos e sentir cheiro
ruim de um local onde muitos ficavam. No outro dia, após
ter tomado café, aquela que fora minha amante foi me ver,
ela estava preocupada. Olhei-a e tentei entender o que eu ti-
nha vista anteriormente nela para me apaixonar. Continuava
bonita, muito arrumada, mas sem sentimentos. Depois dos