Page 48 - A História de Cada Um | Candeia.com
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cumprimentos, disse: “Espero que não tenha vindo para se
                     vingar de mim.” “Não,” respondi, “estou em paz.” “Não tive
                     culpa de nada do que ocorreu com você.” “Sei disso. Não se
                     preocupe, estou partindo e lhe desejo felicidades.” “Você não
                     precisa partir. Seu antigo patrão lhe dará emprego e desta vez
                     algo melhor. Você não o delatou, e isso é importante. Basta
                     querer e terá um bom cargo no grupo.” “Não,” recusei, “não
                     quero, obrigado. Nada de fazer mais coisas erradas. Aprendi
                     muito nesses anos na cadeia.” “Moro com um homem, ele é
                     violento e me ama muito. Não posso ficar com você.” “Não
                     vim aqui por isso, sossegue. Vim pegar um dinheiro que esta
                     senhora guardou para mim, voltarei para minha terra.” “Bem,
                     se é assim, aceite mais este.” Ela me deu um envelope. Não
                     quis pegar. Ela insistiu: “Você me deu muito. Aceite! É um
        46           retorno.” Peguei e agradeci. Fui à rodoviária, dessa vez peguei
                     um ônibus que circula na cidade. Vi como teria de viajar e
                     comprei a passagem. Resolvi ir no mesmo dia à tarde para
                     a capital e lá pegar o ônibus e vir para cá. Despedi-me agra-
                     decendo àquela senhora, que me explicou: “Ajudo pessoas.
                     Gosto dessa moça, ela me auxilia muito, e eu tento ajudar as
                     pessoas que ela prejudica. Vi o que ela fez com você. Ela sabia
                     que o chefe preparava para incriminá-lo se fosse descoberto.
                     Nem ligou quando foi preso; se veio aqui, foi porque contei a
                     ela, que ficou com medo. Por que você não delatou ninguém?”
                    “Não adiantaria; quando vi os documentos, percebi que era
                     eu o dono de tudo o que estava no galpão, e sem nunca ter
                     sido. Depois, se delatasse, não estaria vivo, teria sido morto,
                     é o código do grupo.” Agradeci e parti, não quis ficar mais lá,
                     senti medo. Fui para perto da rodoviária, numa loja da região
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