Page 45 - A História de Cada Um | Candeia.com
P. 45
Encontramos, porém não era honesto; no local vendiam be-
bidas adulteradas, produtos de roubos, era um galpão. Um
companheiro, muito honesto, não aceitou e foi embora, vol-
tou para a cidade em que morávamos. Resolvi ficar, estava
conseguindo mandar mais dinheiro para a família. Morava
num quartinho no fundo do galpão e fazia guarda à noite.
Para isso ganhei um revólver e aprendi a atirar. Meu outro
colega arrumou emprego em outra parte da cidade. Então
conheci uma moça faceira, bonita mesmo, e me apaixonei;
fomos morar juntos, na casa dela. Passei a mandar menos
dinheiro à família. Escrevia sempre, e minha esposa o fazia
mais. Ela pedia sempre para eu voltar. Escasseei as cartas e o
dinheiro que mandava. Essa moça, minha companheira, es-
tava sempre querendo mais coisas; para satisfazê-la, comecei
a roubar do meu patrão e, com dois colegas, passei a roubar 43
residências, comércio e abordar pessoas nas ruas.
Ele fez uma pausa, suspirou, de fato estava aflito.
“Não sei como ele está conseguindo falar”, pensou Bruno.
— Por três anos vivi assim – continuou o homem a narrar
sua história de vida –. Mas acabou. A polícia invadiu o galpão.
O dono sabia que eu o roubava; esperto, mais que eu, colocou
a culpa toda em mim. Documentos falsos foram encontra-
dos; neles, era eu o dono e também fui acusado de roubar.
Fui preso. A moça sumiu, não me quis mais, soube que logo
arrumou outra pessoa. Defendido pela defensoria pública, fui
condenado a doze anos de prisão. Uma vizinha dessa moça,
que eu conhecia, me fez um favor, pegava as cartas de minha
esposa e as remetia para a penitenciária. Preso, não mandei
mais dinheiro. Minha esposa sabia, porque eu escrevera, que
tinha outra mulher. Ela não comentou nada e aí passou a