Page 37 - Véu do Passado | Candeia.com
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— Bem, só quando a tia lhe prende os cabelos. Na letra “a”
é um traço curvo. Vamos contar…
Kim cursava o segundo ano da escola. Tudo o que apren-
dia tentava ensinar à prima cega. Inteligente, ela ia apren-
dendo. Após ter ensinado à prima, Kim foi para casa. Naquele
dia prestou atenção nos pais, eles não eram alegres como os
tios; calados, quase não falavam, só os três conversavam, ele
e os dois irmãos. Olhou bem a mãe, ela preparava o jantar,
estava triste como sempre. Achou-a envelhecida. O pai che-
gara do campo. Triste e calado como de costume, sentou-se
numa cadeira, estava cansado. Num impulso, Kim foi para
perto dele e o beijou.
— Amo-o, papai!
O pai ensaiou um sorriso e passou a mão em sua cabeça.
“Não”, pensou, “não vou contar a mais ninguém, não que-
ro o meu pai preso, o melhor é esquecer o que vi.”
No outro dia cedo, sábado, não tendo aula, o avô foi bus-
cá-lo para passear na cidade conforme combinaram. Foram
na velha charrete do avô. Num solavanco, a charrete empi-
nou para um lado.
— Vovô Xandinho, o senhor precisa consertar isso aí. Kim
mostrou a armação que sustentava a charrete. – Ela vai virar
com o senhor.
— Não sei fazer isso, já tentei consertá-la e não consegui.
Gosto desta charrete, não quero me desfazer dela, transpor-
tei nela sua falecida avó e minhas filhas. Você está vendo al-
gum acidente? Irei cair? – perguntou o avô.
— Sim, vejo-o cair da charrete, mas não vai morrer.
— Então não tenho com que me preocupar.
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