Page 32 - Véu do Passado | Candeia.com
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não chora, diziam-lhe sempre. Mas não era por isso que não
o fazia. Chorar, como dizia o avô, é do ser humano, e não
importa que esse ser humano seja homem ou mulher. Tinha
mesmo de falar com o avô e com Regina, eles o entendiam.
Temia por seu pai, mas como preveni-lo? Ainda lhe doía a
surra que o pai lhe dera quando contou ao senhor José, o
dono do armazém, que fora dona Mariquinha que furtara o
par de tamancos. Recordou, também, os conselhos de dona
Leocácia, sua bondosa professora, depois que descobriu que
foi Reinaldo quem havia quebrado a carteira.
“Joaquim, não dê uma de cigano! Não fica bem para o me-
lhor aluno da classe delatar colegas. Se você descobrir algo,
mesmo que seja errado, cale-se, é o melhor.”
— Ah! – suspirou ele, falando alto. – Se ela soubesse que
estudo, sim, que gosto de aprender, mas que sei tudo o que
vai cair nas arguições… Talvez não mais me chamasse de in-
teligente. É melhor não falar nada ao papai, o vigiarei e o
defenderei desse homem mau.
Kim pensou no seu pai, este estava envelhecido, quase
não falava e nunca ria.
Correu, entregou o almoço aos irmãos e rumou para a
casa dos tios. Chegando, foi gritando pelo avô.
— Vô Xandinho! Vô Xandinho!
Encontrou primeiro a prima Isabela. Adorava essa prima,
que para ele era linda como a flor mais bonita que existe.
Queria que ela fosse sua irmã. A pequena, ao vê-lo, correu
ao seu encontro.
— Kim, machuquei o meu dedinho!
Pelo olhar da menina, podia ver que o amor era recíproco.
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