Page 34 - Véu do Passado | Candeia.com
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também o entendia. Mas aquele assunto era sério demais
para uma menina. O avô o escutava, não o chamava de men-
tiroso e o aconselhava. E ele não sabia como agir, ninguém
via as coisas como ele.
Xandinho arrependeu-se de ter dito “você de novo”. Pela
segunda vez, naquela semana, havia dito para Kim e Regina.
Seus netos não tinham culpa, pelo menos naquela existência.
No momento não faziam nada de errado. Se tivessem culpa,
deveria estar lá no passado, que ficou para trás… Se ele os ama-
va, embora sem compreender o que ocorria, tinha de ajudá-los.
— Não se aborreça, meu neto. Conte-me tudo! Acredito
em você e o ajudarei. Venha, sentemos aqui nesta sombra.
Xandinho deixou a enxada de lado, escutou o neto, que
agora, mais calmo, contou a visão que tivera perto da pedra.
— E agora, vovô, que faço? Corro o risco de falar e levar
outra surra. Se não falo, papai pode ser morto ou matar.
— Você não viu seu pai jovem? Então já aconteceu. Profeta
também vê o passado.
— Profeta? Quê? – perguntou o menino.
— Nada, esqueça, chamo-o assim porque gosto. Deixe-me
pensar uns momentos.
Kim pegou um pauzinho e se pôs a rabiscar o chão, se-
não teria notado que o avô ficara nervoso. Xandinho pôs-se
a recordar.
Fora um episódio triste e acontecido com o genro havia
muitos anos. Foi quando acampou perto da cidade um bando
de ciganos. E um deles, Ivo, apaixonou-se por sua filha Ma-
riana, que já era casada com Sebastião e mãe de dois filhos
pequenos. Assediou-a, deixando todos inquietos.
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