Page 19 - Escravo Bernardino | Premium | Infinda
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— Nem com bichos fazíamos isso! Somos piores que
           bichos? – perguntou uma jovem tristemente.
             — Calem a boca!
              Conversávamos em nossa língua, não entendíamos a
           dos brancos e nem eles a nossa. Mas já sabíamos que essa
           frase que tanto já ouvíamos era para ficarmos quietos.
              Ali ficamos e muitos brancos nos olhavam. Entendi
           que nos comercializavam. E um por um foi sendo separa-
           do e foi embora. Chegou a minha vez. Comecei a chorar,
           quando um branco começou a me examinar, olhando os
           meus dentes. Era o sr. Ambrózio. Dei um pontapé nele e
           ganhei uma forte bofetada, o sangue escorreu pelo meu
           rosto magro. Quietei, fui separado de todos os que conhe-
           cia, dos meus irmãos de sangue e de aldeia. Com outros
                                                                                 16
           negros desconhecidos fui levado para uma carroça e segui-             —
           mos para a fazenda. Assustado, acomodei-me na senzala                 17
           e recebi o nome de Bernardino.
             — Que sou agora? – indaguei amedrontado.
              Ninguém me entendia, foram buscar um preto que
           sabia falar muito mal minha língua. Foi ele quem me
           respondeu e também quem me ensinou a falar como eles
           falavam ali.
             — Você é agora um escravo, uma propriedade do se-
           nhor de fazenda.
             — Como um animal?
             — Pior, os animais são mais bem tratados.
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