Page 18 - Escravo Bernardino | Premium | Infinda
P. 18
à terra, mas bem diferente daquela que fora meu lar. Des-
cer do navio foi um alívio para todos nós. Pelo menos
podíamos respirar melhor, andar e ficar livres daquele
incômodo balanço. Mas estávamos muito bem amarra-
dos; deixamos o navio, andando com dificuldades. Entra-
mos num grande galpão, onde fomos desamarrados, mas
éramos muito vigiados e lá ficamos trancados. Pudemos
tomar banho e fomos obrigados a vestir roupas – os ho-
mens, calças; e as mulheres, vestidos –, e, depois, fomos
alimentados. Pudemos conversar à vontade. Indaguei aos
mais velhos:
— Será que seremos separados? Voltaremos um dia para
nossa pátria?
— Será sorte ficarmos juntos – disse um jovem guerrei-
ro, mas um dos mais velhos do grupo. – Quanto a voltar
à nossa pátria não creio, só depois que o corpo morrer.
— Que tristeza! – suspirou uma jovem.
A comida era diferente da que estávamos acostumados,
mas estava gostosa e pudemos comer pela primeira vez à
vontade, desde que fomos presos. Comi bastante. Logo no
outro dia fomos acorrentados e levados a um local onde
havia muitas pessoas e ali ficamos.
— É melhor ficarmos quietos – disse Anon, um jovem
valente da nossa tribo. – Acho que não vamos ser livres
mais. Não sei o que nos espera, mas é melhor ter calma.