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à terra, mas bem diferente daquela que fora meu lar. Des-
                     cer do navio foi um alívio para todos nós. Pelo menos
                     podíamos respirar melhor, andar e ficar livres daquele
                     incômodo balanço. Mas estávamos muito bem amarra-
                     dos; deixamos o navio, andando com dificuldades. Entra-
                     mos num grande galpão, onde fomos desamarrados, mas
                     éramos muito vigiados e lá ficamos trancados. Pudemos
                     tomar banho e fomos obrigados a vestir roupas – os ho-
                     mens, calças; e as mulheres, vestidos –, e, depois, fomos
                     alimentados. Pudemos conversar à vontade. Indaguei aos
                     mais velhos:
                       — Será que seremos separados? Voltaremos um dia para
                     nossa pátria?
                       — Será sorte ficarmos juntos – disse um jovem guerrei-
                     ro, mas um dos mais velhos do grupo. – Quanto a voltar
                     à nossa pátria não creio, só depois que o corpo morrer.
                       — Que tristeza! – suspirou uma jovem.
                        A comida era diferente da que estávamos acostumados,
                     mas estava gostosa e pudemos comer pela primeira vez à
                    vontade, desde que fomos presos. Comi bastante. Logo no
                     outro dia fomos acorrentados e levados a um local onde
                     havia muitas pessoas e ali ficamos.
                       — É melhor ficarmos quietos – disse Anon, um jovem
                    valente da nossa tribo. – Acho que não vamos ser livres
                     mais. Não sei o que nos espera, mas é melhor ter calma.
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