Page 24 - Escravo Bernardino | Premium | Infinda
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— Senhor Ambrózio, o Coronel me deve um favor. Sal-
vei sua vida naquele dia, impedindo-o de cair do cavalo.
Não podem me vender assim, separando-me de Mara e
dos meus filhos.
— Bernardino, foi o próprio Coronel que escolheu os
escravos a serem vendidos. Ele mandou, nós obedecemos.
Lembrei-o desse fato, mas ele ordenou que você tam-
bém estivesse na lista. Não quis nem ver vocês, nem dar
explicações. Só mandou.
— Não seria melhor ele vender a fazenda com tudo
dentro? – indagou Jeremias.
— Acha que com a venda de vocês não precisará vender
a fazenda. Vocês devem valer um bom dinheiro – respon-
deu sr. Ambrózio de cabeça baixa.
— Miserável! Hei de vingar-me dele! – jurou Jeremias,
um negro meu amigo, que também deixava na fazenda
mulher e oito filhos.
Outro companheiro indagou:
— Como? Nem se salvar você pode! Ainda mais vingar.
— Irei morrer um dia, não irei? Se não puder fugir do
lugar aonde irei, me suicidarei e virei atrás deste infeliz e
do Januário, este malvado. Vingar-me-ei deles mortos ou,
quando eu morrer e eles estiverem vivos nos corpos, fica-
rei para judiar deles, como estão fazendo agora conosco.
— Infelizes somos nós! – lamentou outro.