Page 15 - Escravo Bernardino | Premium | Infinda
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— Tome isto, tirará um pouco de suas dores – ofereceu
ele – e começou a limpar minhas costas.
A dor física era grande, e a moral era igual.
— Vou curar você!
— Não é melhor me deixar morrer? – respondi com
dificuldade. – Talvez assim possa ficar perto dos que amo.
— Como está, se morresse e ficasse perto de alguém,
não ia fazer bem a ninguém. Se o Pai do Céu não o de-
sencarnou é porque tem que ficar aqui. Pense, filho, que
tem que continuar vivo para o seu próprio bem. Você vai
ficar bom.
— Para quê?
— Para cumprir sua missão. Talvez, quem sabe, para
aprender a viver e dar valor à sua vida e à dos outros. Des-
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canse. Fique quieto que vou passar um remédio. —
Tentei ficar quieto, o remédio doía muito. Os rostos da 13
minha Mara e dos dois filhos meus vieram forte à minha
mente. Amava-os. E lembranças surgiram.
Viera da África, do meu lindo país de origem, com oito
anos, aproximadamente. Lugar onde fui muito feliz, ape-
sar de ter poucas lembranças. Mas tinha muitas saudades
daquele tempo feliz, dos meus pais, familiares e amigos.
Tempo em que corria livre pelo campo, pelas matas, dos
meus banhos pelos rios e cachoeiras. Meu nome era Jada,
era filho do chefe de uma pequena aldeia. Era livre como
um passarinho, amava a vida, amava correr e brincar com
outros meninos da tribo.