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— Tome isto, tirará um pouco de suas dores – ofereceu
           ele – e começou a limpar minhas costas.
              A dor física era grande, e a moral era igual.
             — Vou curar você!
             — Não é melhor me deixar morrer? – respondi com
           dificuldade. – Talvez assim possa ficar perto dos que amo.
             — Como está, se morresse e ficasse perto de alguém,
           não ia fazer bem a ninguém. Se o Pai do Céu não o de-
           sencarnou é porque tem que ficar aqui. Pense, filho, que
           tem que continuar vivo para o seu próprio bem. Você vai
           ficar bom.
             — Para quê?
             — Para cumprir sua missão. Talvez, quem sabe, para
           aprender a viver e dar valor à sua vida e à dos outros. Des-
                                                                                 12
           canse. Fique quieto que vou passar um remédio.                        —
              Tentei ficar quieto, o remédio doía muito. Os rostos da            13
           minha Mara e dos dois filhos meus vieram forte à minha
           mente. Amava-os. E lembranças surgiram.
              Viera da África, do meu lindo país de origem, com oito
           anos, aproximadamente. Lugar onde fui muito feliz, ape-
           sar de ter poucas lembranças. Mas tinha muitas saudades
           daquele tempo feliz, dos meus pais, familiares e amigos.
           Tempo em que corria livre pelo campo, pelas matas, dos
           meus banhos pelos rios e cachoeiras. Meu nome era Jada,
           era filho do chefe de uma pequena aldeia. Era livre como
           um passarinho, amava a vida, amava correr e brincar com
           outros meninos da tribo.
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