Page 16 - Escravo Bernardino | Premium | Infinda
P. 16

Mas um dia tudo acabou, fomos atacados pelos ho-
                     mens brancos que, sem dó nem piedade, vieram atirando
                     com suas poderosas armas. Nada se pôde fazer. Bem que
                     nossos guerreiros tentaram, mas foram mortos impiedo-
                     samente. Vi morrer meu pai, minha mãe, meus avós e
                     muitos amigos. Jovens e crianças maiores foram presos.
                    Era grande e forte para minha idade, fui separado com
                     um grupo e amarrado, bem amarrado, fomos obrigados a
                     andar. Segui-os ao curso do rio, todos sabiam que ia dar
                     no mar. Andamos dias, e os brancos não nos deixavam
                     conversar. Curioso, indaguei ao companheiro ao meu lado
                    – era um garotão forte e valente com quinze anos:
                       — Aonde vamos? Será que iremos pelo mar?
                       — Não sei ao certo para onde vamos. Pelo visto não é
                     perto. Já nos distanciamos muito da aldeia e, se vamos
                     pelo mar, é porque é longe.
                       — Calem-se! – um branco disse e deu uma chicotada
                     no rosto dele, que ficou marcado e sangrou.
                        Não entendi o porquê do castigo. Fiquei aborrecido,
                     meu companheiro apanhou por minha causa. Não ou-
                     sei falar mais. Seguimos calados. Tomava água à vontade,
                     mas nos alimentávamos pouco.
                        O mar sempre é bonito, mas vê-lo naquele dia em que
                     chegamos me deu um aperto no coração. Ele parecia ser a
                     causa da separação de uma vida feliz e livre que levávamos.
                        Fomos jogados no porão de um navio com muitos ou-
                     tros negros. Estávamos amontoados. Minha irmã Maã, de
   11   12   13   14   15   16   17   18   19   20   21