Page 23 - Escravo Bernardino | Premium | Infinda
P. 23

companheiros gritar e chorar, indaguei aflito, quando as
           carroças partiram rumo à cidade:
             — Por quê? Por que nos separamos da família?
             — Família? – disse Januário, rindo do nosso desespero.
          – Vocês não têm família, têm ninhadas.
              Ao passar a porteira da fazenda, desesperei-me mais,
           meus olhos assustados olhavam tudo com agonia. Nin-
           guém saiu da senzala ou da casa-grande para nos ver par-
           tir. Acho que fizeram tudo sem que ninguém soubesse.
           Nossos gritos só os negros da casa-grande ou os que esta-
           vam perto podiam ter escutado, pois os restantes estavam
           na lavoura. Mara estava na cozinha da casa-grande, mas
           foi impedida, juntamente com as outras, de sair para ver o
           que acontecia. Acalmei-me, ou pelo menos tentei me acal-
                                                                                 20
           mar. Fiz força para me soltar, vi que era impossível, com             —
           o esforço que fiz só me machuquei. Chorei baixinho e                  21
           fiquei quieto, ficamos todos desesperados. Só alguns mais
           revoltados xingavam, praguejando contra o sinhô Coronel.
           Todos ali sofriam muito. Não conhecia outro lugar, já que
           pouco me lembrava do meu lar na terra distante. Era ali
           na fazenda que vivia, era ali que estavam meus amigos
           e família. A fazenda ia desaparecendo dos meus olhos e
           sentia uma imensa dor. Aí me lembrei de um fato e gritei:
             — Senhor Ambrózio! Senhor Ambrózio!
              Senhor Ambrózio ia a cavalo, não muito longe da carro-
           ça, estava triste. Atendeu a meu chamado e aproximou-se.
   18   19   20   21   22   23   24   25   26   27   28