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treze anos, era muito bonita e bondosa; procurou ter cal-
ma, acalmar a todos e reuniu para perto de si os membros,
que ali estavam, da nossa aldeia. Assim ficamos perto de
conhecidos. Mas não deixava de indagar com muita dor:
“Por que tudo isto? Para onde vamos? Que será de nós?”
Eram perguntas que todos nós fazíamos sem respostas.
Chorava muito a morte dos meus pais e de todos os que
vi morrer.
Fizemos uma viagem horrível, comíamos pouco, está-
vamos amontoados. Vi com muita tristeza muitos amigos
e companheiros de infortúnio morrerem doentes, outros
espancados. Mulheres violentadas pelos homens brancos
e algumas mortas, como minha irmã, Maã. Todos os dias,
vinham homens e escolhiam meninas e mocinhas e as
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levavam para cima do navio. Às vezes, escutávamos os —
gritos delas, quando voltavam estavam feridas, sangrando 15
e sem roupas. Os mais velhos cuidavam delas. Algumas
não regressavam. Como me disse depois uma mocinha
que havia subido com minha irmã:
— Maã morreu nas mãos dos brancos. Eles a jogaram
no mar.
Com a morte dela, tudo ficou mais triste ainda, ela era
um anjo de consolo; chorei muito quando a desamarra-
ram e a levaram, e ela não voltou mais.
Depois de algum tempo (nunca soube calcular quanto
durou essa viagem de horror, que meus olhos inocentes e
infantis viam tudo sem entender, horrorizados) chegamos