Page 38 - A História de Cada Um | Candeia.com
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chegava no nosso lar bêbado e ela reclamava, batia nela; se os
                     filhos fossem defendê-la, batia neles também. Fui despedido
                     do emprego por justa causa, e aí minha mulher me tocou de
                     casa, saía, voltava e fazia escândalo. Eles mudaram e não sou-
                     be para onde. Ela trabalhava muito para sustentar os filhos,
                     a família passou a ajudá-la, e eu fiquei na rua. É estranho
                     viver nas ruas, falávamos que nos sentíamos livres para fazer
                     o que queríamos, que em casa tínhamos normas como: tomar
                     banho, não sujar, não vomitar dentro da moradia, não levar
                     amigos etc. Gostava também de me sentir livre e, afirmava
                     que era bom não ter de escutar resmungos da mulher e da
                     família. Porém não tínhamos quem nos acudisse com afeto se
                     precisássemos de algo. Nos poucos momentos de lucidez, sem
                     a bebida, eu sentia saudades, tristeza e então, sedento, bebia
        36           para esquecer. Bêbado, esses sentimentos ficavam adormeci-
                     dos, e bebia mais para esquecer. Alimentava-me… tem sem-
                     pre alguém bondoso que dá alimentos, mas também revirava
                     lixos, principalmente de restaurantes, e não me importava
                     de comer restos. Pedia dinheiro e comprava bebidas. Estava
                     sempre com algum grupo, e, entre nós, trocávamos objetos,
                     roupas, dividíamos tudo e bebidas. Como brigava muito, levei
                     diversas surras e bati também. Tornei-me um caco, um far-
                     rapo humano, meus filhos sentiam vergonha de mim e não
                     queriam me ver. Uma das minhas irmãs, que estava sempre
                     me dando roupas e alimentos, três dias atrás, me encontran-
                     do sóbrio, conversou comigo: “Esequiel,” pediu ela, “pare com
                     isto! Pare de se embriagar! Se nossos pais fossem vivos eles
                     sofreriam por vê-lo assim. Samuel, nosso irmão, mora longe,
                     ele é pastor evangélico, ele quer que você vá ficar com ele,
                     porque, com as orações dele e um tratamento, você irá sarar.
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