Page 34 - A História de Cada Um | Candeia.com
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— O senhor não quer se apresentar e falar alto para todos
escutarem? – Rosa Maria interferiu.
O senhor se levantou, sorriu sem graça e ficou ainda mais
sem graça com todos o olhando.
— Penso que estou cheirando a suor. Devo estar mesmo.
Chamo-me Agnaldo.
Sentou-se e continuou falando em tom alto.
— Planejei, comprei a passagem há dez dias. Estou indo
visitar um irmão para resolver um problema de herança de
uma casa que meus pais nos deixaram. Ontem à noite, meu
neto de cinco anos foi atropelado. Meu filho está viajando a
trabalho, minha nora foi com ele para o hospital, e eu fiquei
na casa dela cuidando de dois netos pequenos. Não dormi
à noite. Tinha avisado a eles da viagem. Foi às nove horas e
32 quarenta minutos que a mãe de minha nora chegou para ficar
com eles. Corri demais, fui à minha casa, peguei a mala e vim
para a rodoviária de táxi. Suei mais de nervoso, temi perder
o ônibus; para comprar a passagem usei de todas as minhas
economias, e meu irmão me espera para resolver este proble-
ma, a venda da casa. Ainda bem que meu neto está bem, ficou
no hospital por precaução porque bateu a cabeça. Assim que
pararmos, trocarei de roupa. Agradeço a compreensão.
Fizeram algumas perguntas, Agnaldo respondeu:
— Moro sozinho, estou viúvo há muitos anos. Tenho cinco
filhos e treze netos. Sou aposentado, mas continuo trabalhan-
do, estou de férias.
“Para tudo existe uma explicação”, pensou Bruno. “Pode-
mos ficar suados e fedidos por não tomar banho, por falta
de higiene, mas para Agnaldo houve motivos. Assim deve ser