Page 31 - Véu do Passado | Candeia.com
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im suBiu correndo a encosta da monta-
nha, com seu entusiasmo de garoto de oito anos.
KIa ao encontro de seus irmãos, já moços, que na-
quela hora estavam trabalhando no pasto. Seguia contente e
nem reparava na belíssima paisagem, pois tudo aquilo fazia
parte do seu cotidiano. Nascera ali e conhecia todos os luga-
res e habitantes.
Chegou da escola, almoçou rápido e teve a permissão da
mãe para ir visitar o avô, mas antes tinha de levar o almoço
para os irmãos.
Tropeçou, escorregou e quase caiu.
— Ah! Se estivesse chovendo! – exclamou alto. – Bem, se
chovesse, não correria assim!
Sentou-se por instantes numa pedra e já ia continuar a
corrida, quando viu à sua frente seu pai discutindo com um
homem mal-encarado e barbudo, que lhe era completamen-
te desconhecido. Seu pai estava nervoso e com medo. Kim
olhou-o bem e o viu jovem, parecido com seu irmão Onofre.
Na discussão, o barbudo pegou um enorme punhal e avançou
ameaçadoramente para seu pai. Os dois rolaram e o barbudo
caiu em cima da terrível arma. Seu pai, apavorado, chorou,
enterrou o barbudo e colocou em cima uma pedra, aquela
em que estava sentado.
Kim levantou-se rápido, observou tudo e, pronto, não viu
mais nada; não tinha nada ali, nem o pai, nem o barbudo,
nem a pá. Esfregou os olhos, olhou tudo novamente.
“Que vi?! Será que aconteceu ou vai acontecer?”
Quis chorar, desistiu, não sabia por quê. Mas não chora-
va, não conseguia. Talvez por ser homem, pensou, homem
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