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im suBiu correndo a encosta da monta-
                      nha, com seu entusiasmo de garoto de oito anos.
           KIa ao encontro de seus irmãos, já moços, que na-
           quela hora estavam trabalhando no pasto. Seguia contente e
           nem reparava na belíssima paisagem, pois tudo aquilo fazia
           parte do seu cotidiano. Nascera ali e conhecia todos os luga-
           res e habitantes.
              Chegou da escola, almoçou rápido e teve a permissão da
           mãe para ir visitar o avô, mas antes tinha de levar o almoço
           para os irmãos.
              Tropeçou, escorregou e quase caiu.
             — Ah! Se estivesse chovendo! – exclamou alto. – Bem, se
           chovesse, não correria assim!
              Sentou-se por instantes numa pedra e já ia continuar a
           corrida, quando viu à sua frente seu pai discutindo com um
           homem mal-encarado e barbudo, que lhe era completamen-
           te desconhecido. Seu pai estava nervoso e com medo. Kim
           olhou-o bem e o viu jovem, parecido com seu irmão Onofre.
           Na discussão, o barbudo pegou um enorme punhal e avançou
           ameaçadoramente para seu pai. Os dois rolaram e o barbudo
           caiu em cima da terrível arma. Seu pai, apavorado, chorou,
           enterrou o barbudo e colocou em cima uma pedra, aquela
           em que estava sentado.
              Kim levantou-se rápido, observou tudo e, pronto, não viu
           mais nada; não tinha nada ali, nem o pai, nem o barbudo,
           nem a pá. Esfregou os olhos, olhou tudo novamente.
             “Que vi?! Será que aconteceu ou vai acontecer?”
              Quis chorar, desistiu, não sabia por quê. Mas não chora-
           va, não conseguia. Talvez por ser homem, pensou, homem




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