Page 24 - Véu do Passado | Candeia.com
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Gostaria de ajudá-la, só que não sei como. Se pelo menos o
médico tivesse dado alguma esperança…
— Você já faz demais, Afonso – respondeu a mãe. – Foi com
muito sacrifício que ajuntou o dinheiro para levá-la à capital
do nosso estado e pagar a consulta daquele médico impor-
tante. Só eu sei o tanto que trabalhou aqui na nossa chácara
e no emprego provisório, com o nosso vizinho.
— E por ela faria e farei mais! Se pudesse, trocaria meus
olhos pelos dela. Trocaria feliz, ficaria de boa vontade cego
no lugar dela.
— Você é um excelente pai, Afonso – disse a mãe. – Regina
o ama!
— Não sei – respondeu o pai –, às vezes ela me parece tão
arredia…
Mudaram de assunto. Regina escutou quietinha e as lá-
grimas escorreram pelo rosto. Meses atrás tinha ido com seu
pai a uma cidade grande. Ficou contente com o passeio, com
a viagem. Embora estivessem todos esperançosos, ela não
se entusiasmou, tinha a certeza de que continuaria cega. O
médico foi muito atencioso e respondeu tentando ser o mais
agradável possível, quando ela indagou se voltaria a enxergar.
“Não, Regina, seus olhos não têm vida, não há nenhuma
possibilidade de você voltar a enxergar.”
Não se importou. Sabia, sentia que não teria chances.
Mas seu pai chorou, o médico a deixou com a enfermeira
e foi conversar com ele.
Gostou do hotel, só que em lugares estranhos não cami-
nhava sem auxílio, e teve de aceitar a ajuda do pai. Estava con-
formada, sempre esteve, e queria viver da melhor forma que
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