Page 23 - Véu do Passado | Candeia.com
P. 23
remédios, venenos, com ervas. Fui à casa do pai dele, num
horário em que sabia que ele não estaria; conversei amavel-
mente com meu namorado e pedi para ir ao quarto de banhos.
Mas me dirigi rapidamente ao quarto do meu futuro sogro
e coloquei o pó no seu remédio. Voltei à sala como se nada
tivesse acontecido. Nessas lembranças, as coisas, os objetos,
são muito diferentes do que são agora. Este meu vestido vai
até o joelho; lá, vejo-me usando uma roupa que ia até os pés,
reta, e fazia muito calor. Tal como planejei, à noite esse ho-
mem passou o remédio nos olhos e teve uma queimadura
terrível, sentiu muitas dores e ficou cego. Desconfiaram de
mim, mas nada provaram. O filho desse homem acabou não
me querendo, eu continuei má e fiz muitas coisas erradas.
Vovô, quando tenho essas lembranças, me vejo perfeitamen-
te, meu nariz, boca, meus olhos, tudo, só não vejo o rosto do
homem que ceguei. Não vejo seu rosto!
— Não sei lhe explicar o que acontece com você, Regina
– disse o avô. – É melhor não falar isso a ninguém, não enten-
derão. Talvez um dia venhamos a compreender tudo isso e
ficará mais fácil.
— Vovô, por que tenho medo do papai? Tenho receio de
que ele me castigue, porém nunca o fez. Ele é tão bonzinho!
— Não sei… – respondeu o avô, coçando a cabeça, pensativo.
Um tanto desolada, Regina caminhou de volta a casa;
em vez de entrar, sentou-se num banco encostado na pare-
de, debaixo da janela da cozinha. Ali ficou quieta a cismar.
Ouvindo seus pais na cozinha conversando, prestou atenção
na conversa.
— Rose – disse o pai –, preocupo-me muito com Regina.
21