Page 21 - Véu do Passado | Candeia.com
P. 21

— Como é ele, vovô?
             — É loiro como minha filha Mariana, mas os cabelos têm
           reflexos avermelhados. Tem algumas sardas douradas pelo
           rosto – o que lhe dá um ar travesso e inteligente – e os olhos
           são verdes. É um garoto bonito! Por que pergunta? Sabe lá, ó
           menina, como são as coisas, as pessoas?
             — Não sei explicar como e por que, mas sei – respondeu
           Regina. – Embora nunca tenha visto Kim, consigo imaginá-lo.
           Como também imagino Isabela e a mim. Vejo-me. Só que
           às vezes, vovô, me vejo como moça, com roupas compridas,
           retas e claras. Também sou morena, cabelos cortados retos
           e muito negros…
             — Lá vem você de novo… Entendo, minha netinha, eu a
           entendo… – disse Xandinho com carinho.
              Sr. Xandinho foi trabalhar, e Regina com Isabela ficaram
           na frente da casa brincando. Afastaram-se alguns metros e
           Isabela ia descrevendo o caminho.
             — Estamos a alguns metros da estrada, à nossa esquerda
           está a cerca da horta, estamos à frente dos canteiros de alface.
           Cuidado, Regina, aqui tem buraco…
              Mas avisou tarde. Num tropeção, Regina caiu, não se ma-
           chucou, mas irou-se. Bateu com as mãos fechadas no chão
           várias vezes.
             — Desculpe-me – pediu Isabela, lamentando-se. – Não a
           guiei direito.
             — Você não tem culpa! Sou uma burra!
             — Você não é burra, é ceguinha! – disse a irmã tristemente.
             — Não se lamente, Isabela. Eu é que, além de ser cega, sou
           distraída. Por que tenho de ser cega? Por quê?!




                                                                                 19
   16   17   18   19   20   21   22   23   24   25   26