Page 31 - Reconciliação | Candeia.com

rebeldia e dos esforços inúteis de bastar-se a si mesmo, desconec-
tado da fonte suprema. Então, ele se lembra do Pai.
Infelizmente, parece ser muito comum que esse instante seja
mediado pelas bênçãos da dor expiacional, construída pelo ser
como consequência natural de sua desconexão com a lei. Quando

o filho se encontra no fundo do poço, na escravidão de sua anima-
lidade e seus efeitos, lembra-se do Pai e dói, em seu coração, estar
apartado. A dor lentamente sensibiliza, transforma, modifica, qual

o buril redentor que visita a pedra, lapidando-a e dando o toque,
extraindo de sua brutalidade a perfeição da forma e da expressão
quando o homem se abre para permitir que o sofrimento cumpra
seu papel educativo, sem a revolta e o queixume ineficazes que só o
fazem recomeçar a obra de burilamento pessoal em condições ainda

mais difíceis.
Então, inicia-se o regresso. Não basta a dor para aproximar o
homem de Deus. Ela não é propósito, é instrumento. Não é finalidade,

é recurso pedagógico. Só o amor tem poder verdadeiramente trans-
formador e reparativo.
Ao se lembrar da casa do Pai, lembra do Seu amor. Recorda
a dignidade dos assalariados, os que trabalhavam em jornadas, e
da abundância em que viviam enquanto cumpriam seus deveres.

Então, ele se arrepende.
O arrependimento é o primeiro passo para o início da jornada
de regresso, momento em que o ser acolhe em si a responsabili-

dade pela vida e percebe que construiu a realidade infeliz que re-
colhe dela, e que de si depende, igualmente, refazer o caminho de
retorno à casa do Pai. Estabelece-se, então, o movimento religioso
na alma, de religação. Ele ainda se encontra apartado, no entanto, já

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