Page 28 - Reconciliação | Candeia.com
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filho pródigo é uma das mais belas metáforas e símbolo
O arquetípico ofertados por Jesus no Evangelho. Nessa parábo-
la está representado, de forma simples, um movimento muito pro-
fundo de desconexão da criatura com o Criador – a grande doença
– e o retorno à integração com o Pai – a cura.
Tudo se inicia na rebeldia, que se manifesta na exigência. O
filho, certamente cansado de viver sob cuidados do pai, exige a parte
que lhe cabe na herança a fim de usufruir da vida. Há, desde aí, a
consciência do filho de que sem o pai ele não é nada, pois em vez
de sair de casa para conquistar o que deseja e construir a sua vida,
ele requisita parte do que considera o seu direito diante das pro-
priedades e posses de seu genitor. No entanto, essa consciência está
adoecida e ele deseja excluir o pai de sua vida.
Joanna de Ângelis, comentando essa passagem, considera:
“Na parábola de Jesus, o ego do jovem filho é perverso e ingrato. Ao so-
licitar a herança que diz pertencer-lhe, inconscientemente deseja a morte
do pai, que seria o fenômeno legal para conseguir a posse dos bens sem
qualquer problema. Mascara o conflito sob a justificativa inapropriada de
querer desfrutar a juventude, em considerando que mesmo na idade pro-
vecta, o genitor não morria.” 3
O filho dessa história – assim como tantos na vida – confun-
diu herança com direito. É certo que os estatutos legais do mundo
defendem o direito dos filhos legítimos ou assumidos seguirem na
posse daquilo que os pais conquistaram. No entanto, no plano da
alma, herança não é direito, é presente. É algo que os pais dão ao
• 3 • Divaldo Franco e Joanna de Ângelis, Em busca da verdade, p. 33.
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