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filho pródigo é uma das mais belas metáforas e símbolo
               O arquetípico ofertados por Jesus no Evangelho. Nessa parábo-
               la está representado, de forma simples, um movimento muito pro-
               fundo de desconexão da criatura com o Criador – a grande doença
               – e o retorno à integração com o Pai – a cura.

                    Tudo se inicia na rebeldia, que se manifesta na exigência. O
               filho, certamente cansado de viver sob cuidados do pai, exige a parte
               que lhe cabe na herança a fim de usufruir da vida. Há, desde aí, a

               consciência do filho de que sem o pai ele não é nada, pois em vez
               de sair de casa para conquistar o que deseja e construir a sua vida,
               ele requisita parte do que considera o seu direito diante das pro-
               priedades e posses de seu genitor. No entanto, essa consciência está
               adoecida e ele deseja excluir o pai de sua vida.

                    Joanna de Ângelis, comentando essa passagem, considera:


                      “Na parábola de Jesus, o ego do jovem filho é perverso e ingrato. Ao so-
                    licitar a herança que diz pertencer-lhe, inconscientemente deseja a morte
                    do pai, que seria o fenômeno legal para conseguir a posse dos bens sem
                    qualquer problema. Mascara o conflito sob a justificativa inapropriada de
                    querer desfrutar a juventude, em considerando que mesmo na idade pro-
                    vecta, o genitor não morria.” 3


                    O filho dessa história – assim como tantos na vida – confun-
               diu herança com direito. É certo que os estatutos legais do mundo
               defendem o direito dos filhos legítimos ou assumidos seguirem na

               posse daquilo que os pais conquistaram. No entanto, no plano da
               alma, herança não é direito, é presente. É algo que os pais dão ao



               • 3 •   Divaldo Franco e Joanna de Ângelis, Em busca da verdade, p. 33.


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