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O universo psíquico dos pais se confunde com o da
criança que, em dado momento, tem necessidade de limi-
tes e de frustrações que um simples “não” pode oferecer
de forma saudável.
É na condução educativa da criança, que fica à mercê
do mundo dos adultos, que começam a se estabelecer os
primeiros confrontos psíquicos. Alguns educadores acre-
ditam que a criança alimentada e higienizada tem todas
as suas necessidades atendidas, o que não é verdade.
Se o comprometimento educativo dos pais se mostra
apenas dentro do atendimento daquilo que é básico para
a satisfação das carências orgânicas, a ruptura acontece
sutilmente, e os velhos modelos educativos ganham espa-
ço na relação. Dentro dessa realidade, a orfandade emo-
cional passa a ser uma condição da criança, que é vista
como um ser que necessita “coisas” para não dar trabalho.
Inicia-se, então, a transferência dos traumas e conflitos,
de maneira silenciosa e imperceptível.
Claro, os pais têm seus afazeres e compromissos, mas,
uma vez que sejam cumpridos, é preciso que, de fato, es-
tejam junto aos seus filhos. Mais do que isso, é imprescin-
dível que participem profundamente da vida de crianças
e adolescentes.
Os sofrimentos e traumas se instalam por meio da dis-
tância quilométrica que pode existir entre pais e filhos,
mesmo que vivam na mesma casa.
O silêncio também traumatiza, a ausência gera despre-
zo, a falta de interesse revela desamor, e não há dúvida de
que tanto a criança quanto o adolescente sofrem muito.
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