Page 51 - Construtores de Asas | Candeia.com
P. 51

O universo psíquico dos pais se confunde com o da
           criança que, em dado momento, tem necessidade de limi-
           tes e de frustrações que um simples “não” pode oferecer
           de forma saudável.
              É na condução educativa da criança, que fica à mercê
           do mundo dos adultos, que começam a se estabelecer os
           primeiros confrontos psíquicos. Alguns educadores acre-
           ditam que a criança alimentada e higienizada tem todas
           as suas necessidades atendidas, o que não é verdade.
              Se o comprometimento educativo dos pais se mostra
           apenas dentro do atendimento daquilo que é básico para
           a satisfação das carências orgânicas, a ruptura acontece
           sutilmente, e os velhos modelos educativos ganham espa-
           ço na relação. Dentro dessa realidade, a orfandade emo-
           cional passa a ser uma condição da criança, que é vista
           como um ser que necessita “coisas” para não dar trabalho.
           Inicia-se, então, a transferência dos traumas e conflitos,
           de maneira silenciosa e imperceptível.
              Claro, os pais têm seus afazeres e compromissos, mas,
           uma vez que sejam cumpridos, é preciso que, de fato, es-
           tejam junto aos seus filhos. Mais do que isso, é imprescin-
           dível que participem profundamente da vida de crianças
           e adolescentes.
              Os sofrimentos e traumas se instalam por meio da dis-
           tância quilométrica que pode existir entre pais e filhos,
           mesmo que vivam na mesma casa.
              O silêncio também traumatiza, a ausência gera despre-
           zo, a falta de interesse revela desamor, e não há dúvida de
           que tanto a criança quanto o adolescente sofrem muito.




                                                                            48  • 49
   46   47   48   49   50   51   52   53   54   55   56