Page 30 - Amai os Inimigos | Candeia.com
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— Foi por isso que resolvi regressar! – exclamou, levan-
                     tando-se da cama. Abriu o envelope de novo e lá estava o
                     dinheiro. Vivera sem ele, ou quase sem, ultimamente usara
                     para beneficiar alguém.
                       — Antes achava que ninguém vivia sem dinheiro, sempre
                     tive muito, mas agora penso diferente. Voltando, terei de lidar
                     com a moeda. Que irei encontrar? Dárcio me foi fiel? Devo
                     estar preparado para tudo.
                        Andou pela ilha, olhava com carinho cada pedaço, despe-
                     dindo-se. Talvez não regressasse mais ali, e se voltasse não
                     seria a mesma coisa. Tudo muda.
                       — Este tomateiro, que agora está carregado de frutos, mor-
                     rerá e secará em meses. Tudo modifica. Uns resistem mais,
                     outros menos, e tudo se transforma. As pessoas também, anos
        28           as fazem mudar, umas para melhor, outras para pior, o tem-
                     po deixa marcas. Se estamos perto, vendo as modificações
                     diárias, não as notamos, ou não nos chocam. Se estivermos
                     longe, ao revê-las e notamos essas mudanças de uma só vez,
                     estranhamos e podem doer. Dizem que o que os olhos não
                     veem, o coração não sente. Ao retornar, almejamos ver tudo
                     como deixamos, mas isso não é possível, as transformações
                     existem e a decepção machuca. Sei que não vou encontrar as
                     coisas, pessoas como as deixei, nem se voltar aqui, depois de
                     um período, não encontrarei como está.
                        As tartarugas viviam soltas, eram acostumadas a ser ali-
                     mentadas, teriam que procurar alimentos e ainda bem que
                     ali os tinham em abundância.
                       — Se não chover, vocês, minhas plantinhas sensíveis, mor-
                     rerão de sede perto de tanta água! – exclamou Noel suspiran-
                     do e olhando a horta bem-cuidada. – Vou hoje ou amanhã me
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