Page 25 - Amai os Inimigos | Candeia.com
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Ele concordou com a garota, com a barba longa loura, pa-
recia mesmo o Papai Noel, só que sem filhos. Tinha tido o
Gabriel, que partiu tão cedo. Lembrava muito dele, recordou
que um dia seu filho sentou no seu colo e lhe disse:
“Paizinho, você tem o nome do Papai Noel. E, para ser um,
só falta a barba.”
Agora não faltava, tinha a barba. Será que foi por isso que
a deixou crescer? Ou por que não gostava de fazer a barba?
Comodismo? Ou para ficar parecido mesmo com o famoso e
lendário velhinho?
Novamente sentiu a mãozinha, suave, quente e macia so-
bre a sua que passou pela barriga da menina.
— Dê a ela chá para vermes! Neuzinha, você vai sarar da
dor! – afirmou ele.
Eles confiavam e a garota ficaria boa como acontecia sem- 23
pre. Sorriu com os agradecimentos. Foi até a casa do sr. Be-
nedito, que era o líder da vila e pegou o envelope e voltou
para a ilha. Todos olharam curiosos, tinham muita vontade
de saber o que ele recebia periodicamente, mas, como ele não
respondia, não perguntavam mais.
Quando quis sumir, afastar-se da cidade, de todos, o fez
mesmo. Consultou o mapa do Brasil. O país era grande de-
mais, muitos rios, apontou um, viu que tinha algumas ilhas,
resolveu ir para uma delas. Colocou numa maleta o que acha-
va essencial, algum dinheiro e partiu. No começo a popula-
ção ribeirinha olhou-o com desconfiança, com o tempo foi
aceito, e agora eram amigos. Não abriu o envelope, chegou à
ilha, deixou-o em cima da cama. Fez seu almoço e somente
depois que se alimentou foi que abriu a carta. Era de Dárcio,
seu grande amigo e a única pessoa que sabia onde ele estava.