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Ele concordou com a garota, com a barba longa loura, pa-
           recia mesmo o Papai Noel, só que sem filhos. Tinha tido o
           Gabriel, que partiu tão cedo. Lembrava muito dele, recordou
           que um dia seu filho sentou no seu colo e lhe disse:
             “Paizinho, você tem o nome do Papai Noel. E, para ser um,
           só falta a barba.”
              Agora não faltava, tinha a barba. Será que foi por isso que
           a deixou crescer? Ou por que não gostava de fazer a barba?
           Comodismo? Ou para ficar parecido mesmo com o famoso e
           lendário velhinho?
              Novamente sentiu a mãozinha, suave, quente e macia so-
           bre a sua que passou pela barriga da menina.
             — Dê a ela chá para vermes! Neuzinha, você vai sarar da
           dor! – afirmou ele.
              Eles confiavam e a garota ficaria boa como acontecia sem-         23
           pre. Sorriu com os agradecimentos. Foi até a casa do sr. Be-
           nedito, que era o líder da vila e pegou o envelope e voltou
           para a ilha. Todos olharam curiosos, tinham muita vontade
           de saber o que ele recebia periodicamente, mas, como ele não
           respondia, não perguntavam mais.
              Quando quis sumir, afastar-se da cidade, de todos, o fez
           mesmo. Consultou o mapa do Brasil. O país era grande de-
           mais, muitos rios, apontou um, viu que tinha algumas ilhas,
           resolveu ir para uma delas. Colocou numa maleta o que acha-
           va essencial, algum dinheiro e partiu. No começo a popula-
           ção ribeirinha olhou-o com desconfiança, com o tempo foi
           aceito, e agora eram amigos. Não abriu o envelope, chegou à
           ilha, deixou-o em cima da cama. Fez seu almoço e somente
           depois que se alimentou foi que abriu a carta. Era de Dárcio,
           seu grande amigo e a única pessoa que sabia onde ele estava.
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