Page 24 - Amai os Inimigos | Candeia.com
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a reformara muitas vezes, e pintava-a sempre de vermelho e
azul.
Não avistava a ilha da vila, o povoado era pequeno, com
duas ruas empoeiradas, as casas eram simples, os moradores
quase todos morenos, curtidos do sol que reinava sempre, ali
era verão o ano todo.
Chegou, todos o cumprimentaram alegres, as crianças o
cercaram.
— Noel, que bom vê-lo! – cumprimentou Marquinho, um
garoto esperto que o visitava sempre.
Todos o chamavam pelo nome. Ele pediu, logo que os
conheceu, que não o chamassem de senhor. Estava cansado
desse tratamento e agora teria certamente de ouvi-lo de novo.
— Noel, venha ver minha Neuzinha, ela está com dor de
22 barriga – pediu Jovino.
Ele foi, não era médico, mas seus poucos conhecimentos
nessa área eram muitos, comparado com os deles. Por ali não
havia médicos ou hospitais, somente na cidade mais próxima,
que ficava distante. As pessoas dali usavam ervas, chás e re-
médios caseiros. Noel não recusava atender ninguém, tentava
sempre ajudar e quando percebia que poderia ser algo mais
grave, orientava-os e auxiliava-os a ir para a cidade.
— Que tem, Neuzinha? Onde dói? – perguntou ele.
— Aqui, Papai Noel! – respondeu a garota.
Noel sorriu, desde pequeno ouvia isso; quando criança se
chateava, adolescente quis mudar seu nome, depois se acos-
tumou. Sua mãe o consolava dizendo que ele tinha o nome de
um compositor famoso, Noel Rosa, mas isso não o consolava
muito, não gostava do seu nome.