Page 23 - A História de Cada Um | Candeia.com
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— Carta registrada. Veio da cidade perto da que moramos
há muitos anos.
Bruno sabia de cor a história.
Seus pais se casaram, o pai ficou desempregado e então se
mudaram para longe, em um outro estado, no interior, onde
morava um tio do pai, que lhe ofereceu emprego. O irmão e
ele nasceram nessa cidade. Ali os pais residiram por quatro
anos. O emprego que o tio dera era num bar, armazém, onde
se vendia de tudo. O tio faleceu, e eles retornaram para a
cidade de origem, perto da família e onde moravam.
— É do cartório da cidade vizinha, porque com certeza
onde morávamos deve continuar pequeno e não tem cartório
– explicou a mãe.
— Abra logo! – pediu a irmã curiosa.
Bruno abriu e leu, depois leu novamente em voz alta e 21
devagar.
— Você é herdeiro desse Severino. Herdou um sítio. É isso
mesmo? – a irmã continuava curiosa.
— É o que parece – Bruno estava tentando entender.
— Esse senhor Severino era seu padrinho – lembrou a mãe.
— Recordo-me de ter escutado isso – disse Bruno –. Sempre
pensei que ainda bem que não me colocaram o nome de Seve-
rino, como fizeram com o meu irmão, que se chama Sigmundo
em homenagem ao padrinho, que foi o tio do papai. Bem,
pelo que entendi, o cartório está me avisando que recebi de
herança um sítio.
— Não sei se vale a pena ir lá para receber essa herança –
opinou a mãe –. Esse lugarejo é minúsculo, tudo muito pobre,
as terras não são boas ou é chuva que falta. O que me lembro
é que o senhor Severino tinha um sítio pequeno.