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Ouvi, certa feita, que a felicidade está na ignorância,
o que soou absurdo na época. Mas, reconheço agora que,
sob certo ângulo, há uma verdade nessa afirmação. A
criança que ignora os problemas e os perigos do mundo
usufrui de uma felicidade da qual os adultos não mais
desfrutam. Aquele que falhou muitas vezes e se reergueu
sob os auspícios da misericórdia divina teme o véu do
esquecimento. Teme a provisória ignorância de si mes-
mo. “E se tudo aquilo que estudei e aprendi na erratici-
dade não for o suficiente para sustentar o caminho no
bem? E se, diante do peso da matéria que abafa os sen-
tidos espirituais, os caminhos ficarem tortuosos?”. Esses
são pensamentos que, imagino, tenham feito parte das
minhas preocupações “pré-reencarnatórias”. Preocupa-
ções que, mesmo após o véu do esquecimento, impedi-
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( ) ram-me de ter uma infância despreocupada e usufruir
dessa leveza de quem não conhece as dores do mun-
do. Mais à frente, contarei mais detalhes sobre a minha
infância, mas já adianto que ela não foi leve. Havia o
peso constante de algo que eu não sabia nomear, mas
que agora entendo que era a responsabilidade diante
do compromisso reencarnatório, o desejo profundo de,
desta vez, acertar, unido ao medo de falhar.
A resposta do ministro às inquietações de dona Lau-
ra foram tal qual um bálsamo que acalmou nós duas:
Não se preocupe, portanto, minha amiga – exclamou o
Ministro Genésio, sorridente –, terá ao seu lado inúmeros
irmãos e companheiros a colaborarem no seu bem-estar.