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O ano era 1988. Diante da notícia, meu pai entregou
                     à minha mãe o maço de cigarros que estava no bolso
                     da sua camisa de botões, no mesmo estilo que o vi vestir
                     a vida inteira, e nunca mais fumou.
                        Escutei essa história inúmeras vezes e ela sempre me
                     emocionou por muitos motivos. Por me fazer perceber o
                     quanto o meu nascimento foi desejado, pelo teor da pro-
                     messa, pelo sacrifício envolvido, pela resposta de Deus
                     com a permissão da minha chegada ou pelo simples
                     fato de que seria pessoalmente difícil para mim convi-
                    ver cotidianamente com o cigarro.
                        Por outro lado, sempre houve dentro de mim uma
                     certa dúvida: por que será que eu demorei tanto para
                    vir? Nove anos é a diferença que me separa do irmão que
                     nasceu antes de mim. E mais de vinte anos me distan-
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       ( )           ciam do meu irmão mais velho. Quais são os bastidores
                     dessa história? Não tenho certezas a esse respeito ainda
                     hoje, mas desconfio de algumas coisas – parafraseando
                     Guimarães Rosa.
                        Quando li pela primeira vez o livro Nosso Lar, do Es-
                     pírito André Luiz, pela mediunidade de Chico Xavier, um
                     personagem específico fisgou a minha atenção: dona
                     Laura. Essa nobre trabalhadora de Nosso Lar, com ho-
                     ras de serviços prestados a seu favor, estava prestes a
                     retornar ao plano material para uma nova existência,
                     mas pouco animada com o cometimento, apesar das
                     homenagens prestadas em meio às despedidas. Obser-
                    vando o abatimento da fiel trabalhadora, o ministro
                     Genésio busca insuflar-lhe algum ânimo, ao que escuta:
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