Page 34 - Se Você Não Se Curar do Que Te Feriu… | Candeia.com
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na dinâmica familiar, com responsabilidades que não lhe com-
                     petiam, como cuidar da irmã em virtude da doença mental de
                     sua mãe.
                        Sua representante manifestou imensa raiva, e ela, ao ver aque-
                     la cena, perdeu toda a força de controle e se conectou com a
                     sua vulnerabilidade real mais profunda.
                        Na realidade, ela trazia uma ferida infantil de injustiça e
                     abandono muito forte devido à sobrecarga que assumiu sem
                     ter condições para tanto, e à falta que experimentou por não
                     receber, como criança, aquilo de que precisava dos pais.
                        O controle foi a sua defesa imediata, como tentativa de to-
                     mar as rédeas em um ambiente de insegurança e fragilidade.
                     Mas ela permaneceu projetando esse mesmo cenário incons-
                     ciente na relação de casal e se insatisfazendo.
                        Por mais que o marido tentasse atender às suas necessidades,
                     não podia satisfazê-la, pois a fome real não era de controle, e,
                     sim, de entrega ao amor dos pais.
                        Quando ela pôde ver isso, pôde também se mover na direção
                     dos genitores, buscando voltar ao seu lugar na ordem familiar,
                     internamente, e, consequentemente, abrandar a dinâmica de
                     casal, permitindo, por exemplo, ser cuidada e receber com equi-
                     líbrio, ser amada em vez de obedecida.
                        Já o marido, que também estava presente e havia aceitado
                     trabalhar-se, igualmente trazia uma dinâmica de distanciamen-
                     to do pai, o qual via como fraco, e de forte vínculo com a mãe,
                     guardando na intimidade uma ferida em seu masculino pelo
                     frágil vínculo com o pai e pela excessiva expectativa de satisfa-
                     ção na iniciativa ou no comando feminino. Havia se habituado
                     a depositar seu valor e sua segurança na condução da mulher,
                     e não em si próprio.
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