Page 29 - Se Você Não Se Curar do Que Te Feriu… | Candeia.com
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Costuma-se dizer que por trás de um adulto difícil – e to-
dos o somos em alguma medida – há uma criança ferida cuja
dor não é reconhecida nem validada, e que permanece sendo
sempre atualizada.
É que temos a tendência de repetir as feridas compulsiva-
mente, como uma narrativa fixada que não cede espaço para
novos relatos sem que a consciência a visite e a transforme pelo
poder do autoamor.
Em cada relação, seja ela de casal, seja de amizade, seja pro-
fissional, somos tocados em pontos de vulnerabilidade – os es-
pinhos ocultos na carne – e reagimos sem nos dar conta da dor
original ou, ainda que conscientemente, sem domínio de nós
mesmos para evitar as projeções da nossa dor no outro.
Feridos, agitamo-nos e nos distraímos com as ilusões dos
vícios e das compulsões, na tentativa de fugir da dor, ou per-
manecemos recolhidos, tentando nos ocultar do mundo na
vivência solitária da dor não verbalizada, rugindo forte para ex-
pressarmos o descontentamento e a impotência diante daquilo
que se impõe e se manifesta em forma de angústia, ansiedade,
falta, vazio, insatisfação, irritabilidade ou depressão, dentre tan-
tas outras expressões da dor interior.
Pouco a pouco, os desencontros da vida a dois, as insatis-
fações interpessoais e o insucesso em estabelecer vínculos sau-
dáveis profundos e duradouros deixam claro que, se não nos
curarmos daquilo que nos feriu, terminaremos por “sangrar”
continuamente em cima de quem não nos machucou.
Felizmente, a vida nos oferta muitos ratinhos pelo caminho
que não se intimidam ou ficam paralisados com as ameaças dos
rugidos, aportando socorro e ajuda no trajeto para a autocura.
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