Page 31 - Construtores de Asas | Candeia.com
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Mas o jovem não parava de falar, e a paciência do homem
se esvaiu rapidamente.
— Você pode calar a boca?
— Eu queria que alguém me ouvisse…
E a falação continuava, revelando tantas coisas pueris, tan-
tas emoções, tantos sentimentos aprisionados…
O homem foi ficando tão angustiado com tudo o que ouvia
que terminou por perder a cabeça, desejando asfixiar aquele
garoto para fazê-lo se calar.
Foi então que algo surpreendente aconteceu. Bastou ele de-
sejar que, ao contemplar sua imagem no espelho, viu-a asfi-
xiando o personagem inoportuno.
E, à medida que ele apertava o pescoço do garoto, os tra-
ços daquela face desapareciam, até que o adolescente perdeu
a identidade.
O homem pareceu saciar-se ao ver aquele indesejável per-
sonagem desaparecer diante dos seus olhos. E, no instante em
que a morte do adolescente se evidenciou, o impaciente “assas-
sino” despertou em sua cama, sentindo-se sufocar e com suas
mãos apertando o próprio pescoço.
O que essa história tem a ver com as reflexões deste
livro?
A experiência nos mostra que a grande barreira exis-
tente nas relações humanas é a dificuldade de encontrar
pessoas com boa vontade para a escuta, que estejam dis-
postas a ouvir o que o outro tem a dizer. Neste meu tra-
balho, refiro-me à angústia experimentada por pais, pro-
fessores e adolescentes por não serem ouvidos.
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