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Mas o jovem não parava de falar, e a paciência do homem
              se esvaiu rapidamente.
                — Você pode calar a boca?
                — Eu queria que alguém me ouvisse…
                 E a falação continuava, revelando tantas coisas pueris, tan-
              tas emoções, tantos sentimentos aprisionados…
                 O homem foi ficando tão angustiado com tudo o que ouvia
              que terminou por perder a cabeça, desejando asfixiar aquele
              garoto para fazê-lo se calar.
                 Foi então que algo surpreendente aconteceu. Bastou ele de-
              sejar que, ao contemplar sua imagem no espelho, viu-a asfi-
              xiando o personagem inoportuno.
                 E, à medida que ele apertava o pescoço do garoto, os tra-
              ços daquela face desapareciam, até que o adolescente perdeu
              a identidade.
                 O homem pareceu saciar-se ao ver aquele indesejável per-
              sonagem desaparecer diante dos seus olhos. E, no instante em
              que a morte do adolescente se evidenciou, o impaciente “assas-
              sino” despertou em sua cama, sentindo-se sufocar e com suas
              mãos apertando o próprio pescoço.


              O que essa história tem a ver com as reflexões deste
           livro?
              A experiência nos mostra que a grande barreira exis-
           tente nas relações humanas é a dificuldade de encontrar
           pessoas com boa vontade para a escuta, que estejam dis-
           postas a ouvir o que o outro tem a dizer. Neste meu tra-
           balho, refiro-me à angústia experimentada por pais, pro-
           fessores e adolescentes por não serem ouvidos.




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