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Secou o rosto diante do espelho e, no instante em que deci-
diu observar as olheiras que vinham se acentuando nos últimos
dias, levou um susto. Além da própria imagem refletida, havia
uma outra, bem mais jovem.
— Estou enlouquecendo? – indagou-se em voz alta. – Quem
é você?
A imagem no espelho respondeu, e ele sentiu que a voz
ecoou dentro da sua cabeça:
— Queria conversar, alguém que me ouvisse, que me dei-
xasse falar.
— Mas a esta hora? Como entrou aqui?
— Eu moro aqui!
— Estou tendo alucinações? Como, “moro aqui”?
— Me deixa falar?
— Falar o quê?
— Contar o que eu sinto, preciso tanto falar…
— Depois você vai embora? – ele pediu, entrando na história.
— Quero falar!
E aquele personagem, adolescente, começou a falar sem
parar.
E o homem se cansava, porque estava ouvindo muitas bo-
bagens, coisas sem importância. Como era possível um ado-
lescente ter sonhos tão malucos e falas tão vazias de senti-
do? Como era possível experimentar tanta intensidade nos
sentimentos?