Page 46 - As Mães de Chico Xavier | InterVidas
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O SUICIDA DO TREM  riamente, onde quer que estivesse.
                Passaram-se quase quinze anos e eu orando por ele dia-

 DIVALDO FRANCO  Um dia, eu tive um problema que me fez sofrer muito. Nes-
             sa noite cheguei à janela para conversar com a minha estrela
             e não pude orar. Não estava em condições de interceder pelos
      Á       À  Á   ¿ À       ¿    ¹¿   ¿         outros. Encontrava-me com uma grande vontade de chorar;
 Ejornal acerca de um suicídio terrível que me impactou:   mas sou muito difícil de fazê-lo por fora, aprendi a chorar
 um homem jogou-se sobre a linha férrea, sob os vagões da   para dentro. Fico aflito, experimento a dor, e as lágrimas não
 locomotiva, e foi triturado. E o jornal, com todo o estarda-  saem. (Eu tenho uma grande inveja de quem chora aquelas
 lhaço, contava a tragédia, dizendo que aquele era um pai de   lágrimas enormes, volumosas, que não consigo verter.)
 dez filhos, um operário modesto.  Daí a pouco a emoção foi-me tomando, e, quando me dei
 Aquilo me impressionou tanto que resolvi orar por esse   conta, chorava.
                Nesse ínterim, entrou um Espírito e me perguntou:
 homem.        — Por que você está chorando?
 AS M ÃES D E CHI CO X AVIER  necessitadas. Eu vou orando por elas e, de vez em quando,   tade de chorar, porque sofro um problema grave e, como não   310
 Tenho uma cadernetinha para anotar nomes de pessoas
               — Ah, meu irmão – respondi – hoje estou com muita von-
 digo: “Se este aqui já não evoluiu, vou dar o seu lugar para
                                                                                   311
             tenho a quem me queixar, porquanto eu vivo para consolar
 outro; não posso fazer mais.”
 Assim, coloquei-lhe o nome na minha caderneta de pre-
             os outros, não lhes posso contar os meus sofrimentos. Além
 ces especiais – as preces que eu faço pela madrugada. Da
 minha janela, eu vejo uma estrela e acompanho o seu ciclo;   do mais, não tenho esse direito; aprendi a não reclamar e
             não me estou queixando.
 então, fico orando, olhando para ela, conversando. Somos   O Espírito retrucou:
 muito amigos, já faz muitos anos. Ela é paciente, sempre   — Divaldo, e se eu lhe pedir para que você não chore, o
 aparece no mesmo lugar e desaparece num outro.  que é que você fará?
 Comecei a orar por esse homem desconhecido. Fazia a   — Hoje nem me peça. Porque é o único dia que eu conse-
 minha prece, intercedia, dava uma de advogado, e dizia:  gui fazê-lo. Deixe-me chorar!
 — Meu Jesus, quem se mata (como dizia minha mãe) “não   — Não faça isso – pediu. — Se você chorar eu também
 está com o juízo no lugar”. Vai ver que ele nem quis se matar;   chorarei muito.
 foram as circunstâncias. Orava e pedia, dedicando-lhe mais   — Mas por que você vai chorar? – perguntei-lhe.
 de cinco minutos (e eu tenho uma fila bem grande), mas esse   — Porque eu gosto muito de você. Eu amo muito a você
 era especial.  e amo por amor.
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