Page 39 - Dentro de Mim | InterVidas
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Sei que resistimos a deixar morrer essas coisas. Que
paradoxo é esse, de termos dificuldade de soltar o que
nos faz sofrer? Jean-Yves Leloup, teólogo, responde à
questão afirmando que é o “medo de deixar o conhe-
cido pelo desconhecido, pois para encontrar é preciso
perder. Perder suas seguranças, seus pontos de apoio”.5
Nosso ego adoecido faz da dor seu ponto de apoio para
sobreviver. É assim que ele se sente vivo, que ele chama a
atenção para si. Por isso ele se alimenta de lutas, guerras,
dores, doenças, traições, injúrias, sacrifícios, punições…
Ele precisa exibir suas feridas para se sentir vivo, no-
tado, quem sabe, amado, e, assim, tem muita resistência a
esquecer o que lhe fez sofrer, a perder os “troféus” do seu
ego dominador. Daí a sua dificuldade de perdoar, esque-
cer o mal, libertar-se do passado, deixar o grão morrer…
Nosso desafio é compreender que o trigo nasce ape-
nas quando o grão morre. Enquanto isso não for assi-
milado, o ego adoecido sofrerá cada vez mais, ficará tão
inchado, tão mórbido, até o instante em que uma forte
hemorragia o deixará exausto de tanto sofrimento, de
tantas lutas inglórias, de tanto procurar o amor sem
nunca o encontrar. Essa pode ser a hora da doença, dos
sonhos desmoronados, da perda do ser amado, do rom-
pimento da relação afetiva, da falência ou de qualquer
outro “tsunami” existencial.
5 Jean-Yves Leloup. A sabedoria que cura. VozES.
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