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Sei que resistimos a deixar morrer essas coisas. Que
           paradoxo é esse, de termos dificuldade de soltar o que

           nos faz sofrer? Jean-Yves Leloup, teólogo, responde à
           questão afirmando que é o “medo de deixar o conhe-
           cido pelo desconhecido, pois para encontrar é preciso
           perder. Perder suas seguranças, seus pontos de apoio”.5
           Nosso ego adoecido faz da dor seu ponto de apoio para
           sobreviver. É assim que ele se sente vivo, que ele chama a

           atenção para si. Por isso ele se alimenta de lutas, guerras,
           dores, doenças, traições, injúrias, sacrifícios, punições…
                Ele precisa exibir suas feridas para se sentir vivo, no-
           tado, quem sabe, amado, e, assim, tem muita resistência a
           esquecer o que lhe fez sofrer, a perder os “troféus” do seu
           ego dominador. Daí a sua dificuldade de perdoar, esque-

           cer o mal, libertar-se do passado, deixar o grão morrer…
                Nosso desafio é compreender que o trigo nasce ape-
           nas quando o grão morre. Enquanto isso não for assi-
           milado, o ego adoecido sofrerá cada vez mais, ficará tão
           inchado, tão mórbido, até o instante em que uma forte
           hemorragia o deixará exausto de tanto sofrimento, de

           tantas lutas inglórias, de tanto procurar o amor sem
           nunca o encontrar. Essa pode ser a hora da doença, dos
           sonhos desmoronados, da perda do ser amado, do rom-
           pimento da relação afetiva, da falência ou de qualquer
           outro “tsunami” existencial.



           5    Jean-Yves Leloup. A sabedoria que cura. VozES.


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