Page 34 - Abraço à Sombra | Candeia.com
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aneSteSia que Silencia


                     Por um tempo, a intensidade do sentir vinha sendo siste-
                     maticamente silenciada em mim, por uma necessidade de
                    “não perder o controle”, ser “socialmente aceita”, “encai-
                     xar-me nos padrões” e me sentir “segura”. Necessidades
                     escritas assim, “entre aspas”, pois são apenas demandas
                     externas, e não um movimento autêntico do meu ser.
                        O sentir que dói – e que impulsiona, cura e transfor-
                     ma – ficou restrito a cacos de espelhos antigos, roubados
                     da chance de reluzir o brilho da Luz e iluminar as partes
                     ainda obscuras do meu ser. Era tudo tão intenso que dese-
                     jei, por um tempo, parar de sentir. Doía demais, era difícil
                     processar; então, precisei enlatar, calar e viver anestesiada.
                        Agir desse jeito foi bom. Foi confortável e, confesso,
                     menos cansativo. Porém, paguei um preço bem alto por
                     isso. Fui parando de viver meu eu, meu desejo, meu fogo
                     e meu brilho naturais. Minha Vida ficou prática. Apagada.
                     Fria. Inerte. Medida. Fast food. Opaca. Rasa. Sintomática.
                    Até parei de escrever…
                        A racionalidade, tão supervalorizada nos dias atuais, foi
                     espremendo o lugar das emoções, confinando-as num es-
                     paço pequenino, discreto e silencioso. “Não pode aparecer
                     demais, não pode incomodar demais, não pode chamar
                     tanta atenção e, muito menos, sair do quadradinho devi-
                     damente prescrito e recomendado!”
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